quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

In the Shadows...

Anoitecia neste Inverno antecipado, sentido na hipotermia anestesiante dos narizes e dedos… ou do que restava deles. E lá estava ela. No silêncio invadido pelo crepitar da madeira devorada pelas chamas dançantes vindas da lareira. Não havia outro. De vez em quando, o respirar mais intenso da felina enroscada ao seu lado, invejosa do calor, confundia-se com o som da combustão. Não havia mais nada. Apenas ela e os flashes de memória que iam e vinham… iam e vinham… e voltavam a ir na promessa de um regresso instantâneo. Apenas ela e o passado. Apenas ela e a dor. Que loucas e incessantes viagens! Tudo parecia promissor mas nada é o presente. Agora tudo é passado no presente que existe pelo passado que foi. As chamas começam a extinguir-se. A sua música ardente desvanece na dança que se silencia. E a felina escondia o nariz por entre as negras patas depois de uma crise aguda de preguiça…

Antes de se fechar para a noite, aproximou-se do vidro embaciado da janela do quarto. Os olhos falavam-lhe apenas do frio vestido de branco a espreitar no parapeito. A memória, essa contava-lhe a história da praia e do mar. Uma lágrima sulcou a face, serpenteou no queixo e despedaçou-se no peito envelhecido pelas palpitações da tristeza. E depois caiu uma outra. Fechou a janela. E as lágrimas encontraram o aconchego da almofada.

O vermelho ténue da lareira ia escurecendo a árvore de natal adormecida pelo bailado de cores que a haviam percorrido durante o dia. A felina tinha-se levantado, dado meia volta e enroscado novamente.

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